estudantina em 1896 :
A NOSSA TUNA VELHINHA ( 1870
)
Falar
da nossa Tuna com dados e datas
certinhas , é uma tarefa difícil
hoje. Naquele tempo quem saberia ler
ou escrevinhar? E dos que sabiam , quem arquivaria algo por escrito
? Apesar da escola primária para
rapazes ter sido criada em 1856 , poucos
foram os que se iniciaram na aprendizagem , pautando os filhos dos mais abastados , e os da maioria,
camponeses ou operários , começavam muito novos a labutar e pouco entusiasmados em aprender a ler ou em escrever. Houve sempre gente curiosa que guardou em
agenda ou papeis pessoais certos
apontamentos , onde familiares
guardaram-nos religiosamente em gavetas
, felizmente ficaram longe de
velhos bisbilhoteiros. Talvez fosse
desses amarelados papeis ou arquivos que
chegaram aos nossos dias duas datas :
1870 e 1895. As primeiras
alusões escritas da existência duma
Orchestra datam de 1896 em artigos dos jornais regionais da Feira e de
Espinho , e , de actas da junta de freguesia
de 1882 e 1892 , onde na primeira
é “ referida
a existência dum grupo de locais que adquiriram instrumentos para a
Troupe Musical “ e a segunda do pedido da “
criação duma mini Academia de ensino de musica ,consignados por acção de
Joaquim Alves da Rocha e Joaquim Macedo
, por autorização do pároco José Castelão e dos membros da junta , Joaquim Rosas e Francisco da Ferreira , ambos membros
da dita junta e membros da Troupe
“. Por via oral os testemunhos de Aires
de Sousa e de Lúcia Rocha , confirmaram
por relatos de seus parentes , que esta tuna se denominava de
Estudantina. Fora fundada no reinado de Dom Luís , por influencia do
Padre José Henrique , pelo feitor da casa da Portela , ti Francisco Rocha ( tio
de Joaquim Alves da Rocha ) tocador de violino
e por outros entusiastas , onde
se encontravam , Augusto Pinto de Almeida,
dono da dita casa , formado em Direito e executante de violão. Se existe verdade nisto , não será por acaso
a sua denominação de Estudantina, entusiasta que era o Augusto , diziam que
“ no dia da sua formatura em 1868
trouxera a esta terra uma tuna de estudantes , que por arrasto converteu os
músicos locais que já tocavam em Charangas e teriam conduzido á criação desta
tuna “. Na bandeira velhinha está
escrita o ano de 1870 : será a data oficial da sua fundação? A musica é das artes a mais subtil , é um
laboratório imenso , neste se amalgamam correntes do saber humano e expressões
de sentimentos íntimos. É UM ESTADO
DE ARTE. Esta bandeira de 1870 era
um ex-líbris , um dado indispensável , que desapareceu . Quem a tem ou
onde estará ? Na história desta Tuna
uma bandeira é um valor formidável. Mais
que a bandeira , há coisas mais importantes : recordações de família ,
instrumentos velhinhos , retratos de formações e os nomes dos heróis. Em Paços de Brandão , a musica deve ser uma
coisa espontânea , como os lírios na Primavera.
Ainda hoje a Academia de Musica é uma prova disso : tanta gente a
estudar musica . Valeria a pena
descobrir raízes mais profundas , pois é no seio dum povo onde elas se encontram o nosso íncola, habitante característico ,
traz consigo tradições próprias e impostas.
Por aqui divagaram , monges e cónegos regentes , sangue azuis , onde a musica era cultivada e ensinada , nos claustros e nos
palácios , nos solares dos Pinto de Almeida e dos Brandões , por certo que ,
melhor que ninguém , nos poderiam revelar como nasceu a Tuna da nossa terra! Até hoje mentem-se a incógnita. Cada povo tem , o seu modo de ser , próprio ,
peculiar: Paços de Brandão não foge á regra.