domingo, 9 de setembro de 2012

a estudantina - 1870 -1908


                                                                 estudantina em 1896 :



                                                                      A NOSSA TUNA VELHINHA   ( 1870  )
 Falar da nossa Tuna  com dados e datas certinhas , é uma tarefa  difícil hoje.    Naquele tempo quem saberia ler ou escrevinhar?     E dos que  sabiam , quem arquivaria algo por escrito ?  Apesar da escola primária para rapazes  ter sido criada em 1856 , poucos foram os que se iniciaram na aprendizagem , pautando os filhos   dos mais abastados , e os da maioria, camponeses ou operários , começavam muito novos a labutar  e pouco entusiasmados  em aprender a ler ou em escrever.    Houve sempre gente curiosa que guardou em agenda ou papeis pessoais  certos apontamentos ,  onde  familiares  guardaram-nos religiosamente em gavetas  ,   felizmente ficaram longe de velhos bisbilhoteiros.     Talvez fosse desses amarelados  papeis ou arquivos que chegaram aos nossos dias duas datas :  1870 e 1895.   As primeiras alusões escritas da existência duma  Orchestra datam de 1896 em artigos dos jornais regionais da Feira e de Espinho , e , de actas da junta de freguesia  de 1882 e 1892 , onde na primeira  é    referida  a existência dum grupo de locais que adquiriram instrumentos para a Troupe  Musical “  e a segunda do pedido  da “  criação duma mini Academia de ensino de musica ,consignados por acção de Joaquim Alves da Rocha e Joaquim Macedo  , por autorização do pároco José Castelão  e dos membros da junta , Joaquim  Rosas e Francisco da Ferreira , ambos membros da dita junta e membros da  Troupe “.   Por via oral os testemunhos de Aires de Sousa e de Lúcia Rocha , confirmaram  por relatos de seus parentes , que esta tuna se denominava de Estudantina.   Fora fundada  no reinado de Dom Luís , por influencia do Padre José Henrique , pelo feitor da casa da Portela , ti Francisco Rocha ( tio de Joaquim Alves da Rocha ) tocador de violino  e  por outros entusiastas , onde se encontravam  , Augusto Pinto de Almeida, dono da dita casa , formado em Direito e executante de violão.  Se existe verdade nisto , não será por acaso a sua denominação de Estudantina, entusiasta que era o Augusto , diziam que “  no dia da sua formatura em 1868 trouxera a esta terra uma tuna de estudantes , que por arrasto converteu os músicos locais que já tocavam em Charangas e teriam conduzido á criação desta tuna “.  Na bandeira velhinha está escrita o ano de 1870 : será a data oficial da sua fundação?  A musica é das artes a mais subtil , é um laboratório imenso , neste se amalgamam correntes do saber humano e expressões de sentimentos íntimos.  É UM ESTADO DE ARTE.   Esta bandeira  de 1870 era  um ex-líbris , um dado indispensável , que desapareceu . Quem a tem ou onde estará ?     Na história desta Tuna uma bandeira é um valor formidável.  Mais que a bandeira , há coisas mais importantes : recordações de família , instrumentos velhinhos , retratos de formações e os nomes dos heróis.  Em Paços de Brandão , a musica deve ser uma coisa espontânea , como os lírios na Primavera.  Ainda hoje a Academia de Musica é uma prova disso : tanta gente a estudar musica .   Valeria a pena descobrir raízes mais profundas , pois é no seio dum povo  onde elas se encontram  o nosso íncola, habitante característico , traz consigo tradições próprias e impostas.  Por aqui divagaram , monges e cónegos regentes ,  sangue azuis , onde a musica era  cultivada e ensinada , nos claustros e nos palácios , nos solares dos Pinto de Almeida e dos Brandões , por certo que , melhor que ninguém , nos poderiam revelar como nasceu a Tuna da nossa terra!   Até hoje mentem-se a incógnita.  Cada povo tem , o seu modo de ser , próprio , peculiar: Paços de Brandão não foge á regra.


terça-feira, 27 de setembro de 2011

OS PADRES E CURAS DE PAÇOS DE BRANDÃO

Introdução:


1º- Não conheço qualquer estudo sobre origem , vida e desaparecimento dos antigos títulos paroquiais : abade , cura , prior , reitor , vigário , etc. até há algumas décadas frequentes nos párocos das nossas freguesias. Por isso após aturadas pesquisas , vou reunir os diferentes termos destes , devendo esclarecer que são escassas para o interesse do conhecimento :

Abade : - era a dignidade que inicialmente presidia a um mosteiro com a categoria de abadia ; mas não sei se era abade por estar á frente de uma abadia ou se era abadia , por ter como superior um abade . Se se tratasse de um convento de mulheres a superiora chamava-se Abadessa. No sentido moderno será , digamos o cura de almas privativo de qualquer Igreja paroquial , consequência isso da vulgarização de tal nomenclatura.

Reitor : reitores eram os párocos das freguesias “ cujo dízimos eram no todo ou em parte aplicados a Comendas , mosteiros ou obras pias , ficando ao pároco apenas a côngrua e o pé d’ alta. Depois passaram a designar-se como reitorias as Igrejas “ não paroquiais nem capitulares , nem anexas a comunidades religiosas que aí celebrem os seus ofícios , embora possam pertencer a uma dessas comunidades em propriedade. “

Prior : Antigamente também utilizado na hierarquia civil , na ordem de precedências eclesiásticas era dignidade imediatamente inferior ao abade ; ou então o mesmo superior de uma ordem cujo governo era de priorado. Se o mosteiro era de mulheres a superiora era chamada de prioresa . É de admitir que inicialmente se denominasse de prior ao religiosa que tinha a seu cargo uma igreja paroquial por delegação de uma abadia e depois por semelhança de situações se chamasse ao padre que servia qualquer paróquia , cujo padroado pertencesse a um mosteiro. No sentido do termo na actualidade o nome está implantado mais a sul da nossa região.

Vigário : Tal titulo , também a principio utilizado na ordem civil , como pessoa que exerce determinados poderes em nome de outro é , actualmente , privativo da hierarquia religiosa. Há muitos vigários , desde o vigário de Cristo que é o Papa , passando por uma serie de dignidades como : Cardeal – Vigário - administrador da Diocese de Roma em nome do Papa ; Vigário Geral da Diocese ; Vigário capitular – administrador de uma Diocese vaga em nome do Cabido ; Vigário da vara ou arcipreste , que em direito canónico , vigário foráneo , com funções de vigilância e assistência sobre as paróquias , onde tem o direito de precedência sobre os párocos e outros sacerdotes , até aos nossos padres , cujo verdadeiro titulo é vigários paroquiais. E estes podem dividir-se no pároco propriamente dito ; e o vigário ecónomo , isto é , o que recebe o oficio como simples administrador , caso normal actualmente. Há ainda os vigários cooperadores a que vulgarmente chamamos coadjutores , visto que auxiliam o pároco. Encontram-se nos antigos livros paroquiais os vigários encomendados : era do mesmo modo uma situação interina , provisória , tendo o cargo de paroquiar até á nomeação definitivo , conquanto muitos havia que eram assim conservados por tempo indefinido.

Cura : Era o pároco com o encargo de administrar os sacramentos e conduzir espiritualmente os paroquianos por simples delegação temporária do Bispo. Além deste havia e há os capelões – sacerdotes com o encargo do serviço de uma capela , isto é de um templo não paroquial , como por exemplo o da Igreja da Misericórdia. Há ainda o ermitão , mas este não era padre , e sim um leigo com o encargo de simples limpeza e serviço laico inclusivamente ajudar á missa , numa ermida ; se for feminina era a ermitoa. A sua nomeação era da responsabilidade de outrem e não do Bispo , consoante o Padroado.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

MUSICA - UMA TRADIÇÃO COM MAIS DE 150 ANOS


charanga da estudantina em 1893 :

De pé , da esquerda para a direita : Manuel do Geno , Augusto Almeida e Augusto Pinhão.

Sentados : João da Nica , Manuel do Modiga , Francisco Rocha , Joaquim Alves da Rocha e Joaquim Macedo.


DA ESTUDANTINA ATÉ AOS NOSSOS DIAS

A Musica tornou-se nesta terra uma Tradição com pergaminhos desde tempos imemoriais , mas tornou-se tradição cultural há quase 136 anos , depois da fundação da ESTUDANTINA em 1870 . Muito antes já existiam nesta freguesia grupos denominados de “Charangas ``, que animavam as festas locais e foram os percursores para o aparecimento da primeira tuna , onde não podem ser esquecidos os dinamizadores deste empreendimento . Mas já irei lá mais adiante a este assunto , por agora vou fazer uma introdução sobre a importância do termo TUNA e também o porquê da denominação de ESTUDANTINA .

TUNA : antes de mais , é um conjunto musical. Também se aplica a um grupo de indivíduos que se ajuntam para tocar. Se forem estudantes , denomina-se de ESTUDANTINA . E perguntam o porquê da escolha de ESTUDANTINA ,se nenhum dos elementos eram estudantes ? Tudo derivado dos instrumentos e duma pessoa especial que causou tudo isto … Explicando melhor :

- Nesse tipo musical heterogéneo , abundam instrumentos de corda < dedilhada >, como bandolins , bandolas , guitarras , violas , etc. , e também instrumentos de cordas < friccionadas > como violinos . Podem ter outros instrumentos , mas sempre indispensáveis uma ou duas pandeiretas . E essa pessoa é sem duvida Augusto Pinto de Almeida da casa da Portela .

Enquanto liam esta transcrição magistral de TUNA , por certo se lhes riram olhos molhados de mil saudades todos os quantos na nossa terra brandoense pertenceram ás TUNAS velhinhas , centenárias , a quem presto mui sentida homenagem , e , nomeadamente á nossa ESTUDANTINA , TUNA NOVA , TUNA VELHA e TUNA MUSICAL BRANDOENSE . ( 1 )

O concelho da Feira durante o século XIX foi impulsionador no aparecimento de várias formações musicais , estando a nossa localidade como a quarta em que criou a sua tuna , sendo a mais antiga a de Arrifana ( 1803 ) , seguindo-se a de S. M. de Souto ( 1834) ,Orfeão da Feira e a ESTUDANTINA em 1870. A nossa queda pelas causas musicais , já deve ser um dom natural destas gentes , cujas palavras do Padre José Queiroz relatava que na localidade o povo é muito dado ás tradições culturais , cujas raízes advêm das justas desde o tempo do seu fundador e da natural apetência pelas coisas rurais e religiosas . Esta gente muito crente , traz sempre presente , a Fé e a Crença, cantarolando diariamente como modo singular de afastar as maleitas .

Estas páginas são antes de tudo uma Homenagem sentida aos ilustres tocadores, mestres, contramestres, gerações de gente humilde agarrada ás coisas da sua terra , os criadores das eternas melodias musicais : amadores mas com Arte , bem como os cantores de poemas escritos. É recordar o génio de amantes desta nobre Lira , gente que dedicou toda uma vida em prole desta terra , onde se associam os nomes como :

- Joaquim Alves da Rocha ( ti Rocha) , Joaquim Macedo , João Tavares , Marques Pinto e Aires de Sousa , entre muitos outros heróis destas causas tão arreigadas . E como soi dizer-se , vou explanar nestas humildes páginas , uma história de quase 136 anos ,desde 1870 até aos nossos dias , resumindo os feitos desta humilde gente , narrando com grande paixão o quanto respeito e admiro, a gesta musical .

born in Paços de brandão


1928- antigo palacio dos Brandões

Não há data exacta que confirme a fundação desta freguesia. Lê-se no Arquivo do Distrito de Aveiro ( nº-6 , pag.87 ), “ que as Vilas portuguesas que nos aparecem no principio da Monarquia e ainda no Reino de Leão são de origem romana , se não anterior “ e deste modo os brandoenses podem-se orgulhar da origem milenária da Vila de Paçô de que falam já documentos muito anteriores á Monarquia. Sabe-se que antes do nome actual , era terra dividida e se chamava : Paçô , denominando por lugares de Rio Maior, da Riba e Extremadouro. Interrogando vestígios primitivos , talvez anteriores a Extremadouro , coevos de Villa Palaciolo ou Paçô, vou encontrar o primeiro íncola a pisar este espaço de território , hoje denominado de Paços de Brandão. Dizem-nos antiquíssimos documentos dos anos 773 a 1159 que Paços de Brandão , se chamou primitivamente Vila de Paçô ( Portugaliae Monumenta Historica – Diplomata et Chartas , I, CCLVII , CCCXXV e CCCCI ; Baio Ferrado , paginas 77 a 79 ). Todos estes documentos são em Latim. Todos eles mencionam Villa Palaciolo , isto é , Vila de Paçô. E o termo vilas naquele tempo não tem o mesmo valor das actuais . O de 773 deve ser de data posterior. A mudança de Vila de Paçô para Paços de Brandão deu-se entre 1159 e 1186. De facto , é de 1159 o ultimo documento conhecido em que aparece ainda Villa Palaciolo – Vila de Paçô (Baio Ferrado, pag.79 ); e é de 1186 o primeiro onde se escreve já Palaciolo de Bndõ – Paços de Brandão ( Censual do Cabido da Sé do Porto , pag.550 ). Com a chegada em 1095(?) a esta terra , dum cavaleiro Normando chamado de Fernan Blandon, tudo mudou e tornou-se única em parcela. Alistara-se nas hostes do Conde Dom Henrique juntamente com o seu irmão Carlos , lutando lado a lado para expulsar o Islão. Depois da reconquista de Espanha , sob o beneplácito de Filipe I, rei de França ,sendo que após a reconquista ,o Afonso VI enviou-os á Lusitana Terra sob o comando do conde Dom Henrique para correr com os Mouros e por cá ficou. Em prémio dos serviços prestados , o conde Dom Henrique recebeu o Condado Portucalense de que tomou posse em 1095. No mesmo ano foi convidado para assistir ao casamento daquele Conde com a Dona Teresa , filha de Afonso VI e para homenagear Dom Henrique . Os seus companheiros espalharam-se pelas terras que tinham conhecido nas correrias contra os mouros. Cada um , sem dúvida , procurou as mais formosas e ricas e que ofereciam garantias de maior segurança. Nesse mesmo ano , porque “ noblesse oblige “ , entrou como donatário de uma terriola , até ali denominada Villa Palaciolo ( Paçô ), (o seu irmão Carlos ficou com a vizinha Rio Meão ) e , que escolheu porque ficava numa área estratégica e bem servida por estradas de ligação com a Estrada Real que , no dizer de A. Girão ( Geografia de Portugal , pag.366) “ no tempo do domínio muçulmano , canalizou nesta parte da Península o esforço máximo da Reconquista Cristã “ , desde então até hoje ficará a ser conhecida como Paços de Brandão. Cá construiu o seu Palácio e a sua torre quintã, como é timbre dos Brandões . Aqui nasceram os seus filhos : Martim e Pedro . Pedro ficou solteiro , tal como o seu tio Carlos que fora viver para Rio Meão. Portanto é através de Martim Fernandes Brandão que se desenvolverá a família nobre. O Historiador da “ Monarquia Lusitana “( edição de 1690) ( Capi. XXIV), transcreve um documento de 1131 , dum códice do Mosteiro de Lorvão , das três ultimas folhas , em que aparece Fernando Brandão como testemunha . Depois diz : “ Dos Brandoens há tradição que vierão de Inglaterra ( Normandia ) & que dous irmãos do tempo do cõde Dom Henrique jazem sepultados em Grijó “. Mas na verdade Fernando Brandão e seus companheiros não vieram de Inglaterra , mas sim da Normandia que é uma região de França. O nosso fundador e seu irmão jazem no Mosteiro de Grijó , que ajudaram na sua edificação. A propósito , quero chamar a atenção para duas coisas curiosas que se notam no estudo dos documentos referentes a Paços de Brandão. A primeira diz respeito à liberdade da grafia do nome. Vejamos : - Villa Palaciolo ( Port. Mon. Historica ); Villa Palatiolo , Villa Palaciolo, Villa Paaciolo , ou somente Paaciolo e Páácio – ( Baio Ferrado ); Palaciolo de Bndõ ( Censual da Sé do Porto );Palaçoo Blando ( Inquirições de D. Afonso II );Brando ( Foral de Afonso III e Livro 3 das Inquirições da Beira e Além Douro , pag. XIII- Torre do Tombo )); Paaçoo de Blandon ( Inquirições de Dom Diniz );Paçó de Brandão , Paaçóo de Brandon , Paaçó de Brandam , Paaço de Brendon , etc. - ( Tomo I do Tombo do Mosteiro de Grijó , pags. 131 a 149 – Torre do Tombo; Paços de Brãdam ( Catalogo dos Bispos do Porto por Dom Rodrigo da Cunha – 1623 ) e finalmente Paços de Brandão , Paços de Brandam ( Relação do Abade José Barboza Queiróz - 1758 ). A segunda coisa digna de especial menção é que os antigos usavam também simplesmente o nome de Paçô. ( Baio Ferrado , pags.77 a 79 ) onde se escreve Paaciolo e Páácio , e que houve tentativas de abreviar Paços de Brandão para Brandão ( Foral de Dom Afonso III e Livro 3 das Inquirições da Beira e Além Douro , pag. XIII, onde se escreve somente BRANDO.

No Século XII, já Paços de Brandão estava paroquialmente constituída. Nesta conformidade , será o primeiro documento escrito que nomeia “ ecclesia “ , um prenuncio porque confirma a sua existência na freguesia muito antes dessa data. E se era “ecclesia “ assumia-se como centro da unidade de todas as vilas circundantes no sentido de unidades agrárias , aldeias reunidas á volta ecclesia.